Introdução
Muitas vezes, os sintomas emocionais não são aquilo que parecem. Em minha prática clínica em psicologia junguiana, observo que as pessoas tentam se livrar dos sintomas como se eles fossem a causa central de seus sofrimentos. No entanto, o sintoma costuma ser o resultado de uma tentativa mal-sucedida de autorregulação do sistema psíquico, ele é consequência, não causa.
O afeto, que pode se manifestar como sentimento, intuição, sensação ou pensamento, revela aquilo que está por trás do sintoma: o complexo. Essa compreensão é fundamental quando lidamos com crises de sentido, que geralmente não se resolvem apenas no campo emocional, mas exigem uma investigação mais profunda.
Os afetos e os complexos
Afinal, o que são afetos na psicologia?
Para Jung, afetos são descargas energéticas que influenciam emoções, pensamentos, sensações e intuições. Quando estamos afetados por algo, isso indica que um complexo foi constelado/ativado/engatilhado e esse complexo costuma tocar dimensões profundas da psique, muitas vezes relacionadas ao nosso modo de estar no mundo.
E o que é um complexo?
Complexos são conteúdos psíquicos imagéticos carregados de forte energia afetiva, capazes de se ativar em situações emocionalmente significativas. Eles são autônomos, podendo “puxar” a libido (energia psíquica) para si, limitando e em casos extremos, possuindo o ego, como ocorre em delírios ou psicoses.
No Volume 2 de Estudos Experimentais, Jung demonstrou, por meio do teste de associação de palavras, que respostas a estímulos simples (“casa”, “família”, “pai”) revelavam a presença de complexos afetivos. Indícios como tempo de reação prolongado, falhas verbais, reações fisiológicas e respostas incoerentes indicavam conteúdos inconscientes carregados de afeto.
A neurose e os sintomas emocionais
Se os sintomas não são a causa, mas a consequência, como então buscar a cura?
Primeiro, é necessário compreender o que é neurose segundo Jung. A consciência é unilateral por natureza: foca em uma direção, escolhe um caminho e ignora outros. Essa capacidade é essencial para nossa vida prática, mas também nos torna cegos para aquilo que deixamos de fora, especialmente em momentos de conflito interno ou de crise existencial. O inconsciente compensa essa unilateralidade, sendo oposto e complementar à consciência. Assim, quando a atitude consciente está rígida ou exagerada, o inconsciente produz uma força oposta de igual intensidade. Esse conflito gera um estado de estagnação psíquica: a neurose. É por isso que tantas pessoas tentam resolver emocionalmente algo que, na verdade, é mais existencial. A emoção é apenas a superfície, o conflito é mais profundo e envolve a relação entre consciente, inconsciente.
O símbolo e a saída da estagnação
Para sair da estagnação é preciso integrar aquilo que foi deixado de lado pela consciência. Isso inclui reconhecer o complexo constelado, compreender seu significado simbólico e perceber o que ele está tentando compensar. Quando há um confronto verdadeiro entre consciente e inconsciente, algo central na psicologia junguiana, surge uma terceira via: o símbolo. O símbolo integra os opostos, reorganiza a energia psíquica (libido) e abre um caminho novo. É por meio desse movimento simbólico que ocorre a transformação e, consequentemente, a cura.Em crises de sentido, esse processo é ainda mais fundamental. Não se trata apenas de controlar emoções, mas de compreender o que elas revelam sobre nosso modo de viver e sobre o que foi esquecido, reprimido ou negligenciado ao longo do caminho.
Referências
Estudos experimentais vol. 2 – Carl Gustav Jung
Se você percebe que seus sintomas podem estar apontando para algo mais profundo, posso te ajudar a compreender esse movimento da psique. Agende uma consulta e vamos conversar.
